Pega a visão.
O pente fino da intimidade.
Há algo de extraordinário na coragem de vasculhar os recantos mais secretos da própria alma, como quem passa um pente fino na intimidade, essa é uma marcha que poucos se dispõem a encarar, pois exige mais do que vontade: demanda disciplina, dedicação honestidade, lucidez, e, acima de tudo, amor-próprio. Examinar as emaranhadas nuances da nossa essência é desfiar memórias, crenças e medos, enfrentando sem filtros os espelhos embaçados, opacos e trincados que guardamos dentro de nós.
O ato de se desnudar diante de si é, ao mesmo tempo, um gesto de redenção e um convite à transformação, é distinguir que, entre as arestas de nossas falhas e as dobras de nossos acertos, existe uma verdade que pulsa, ansiosa por ser desbravada. No entanto, isso requer uma calma e paciência imensa, quase artesanal, para desamarrar os emaranhados e soltar as correntes que nos prendem a versões menores de nós mesmos.
Não é um trabalho rápido, nem indolor.
O pente fino da intimidade nos desafia a afrontar as pequenas traições que cometemos contra nossos valores qualitativos, os sentimentos negligenciados que empurramos para os cantos, e os desejos abafados pelo medo do julgamento; eis o aprimoramento e a reedificação, por onde encontramos a grandeza de quem realmente somos, ao retirarmos, fio por fio, dos entrelaçados de autossabotagem e as camadas de máscaras que vestimos.
Ao passarmos esse pente fino, não emergimos perfeitos, mas íntegros, leves, autênticos, e essa inteireza nos convida a viver com mais profundidade, pois só quem se conhece com tamanha intimidade pode amar e viver com verdade.
Edson Rosa.

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